Nome: Marta Redondo                        Idade: 27
Nacionalidade:  Portuguesa

IG: @bootraveller

Primeira viagem

A minha primeira viagem a solo foi a Paris, movida pelo sonho de visitar a Disneyland Paris. Com apenas dezanove anos, tinha perdido o meu pai fulminantemente para um cancro que o levou em quinze dias desde que foi descoberto.
Não tinha amigos disponíveis para fazer esta viagem, enchi-me de coragem e lá fui eu. Concretizei o sonho de ir ao paraíso da felicidade e ainda estive sozinha a deambular em Paris.


Tipo de acomodação

                                                                                            
A minha acomodação preferida é o AIRBNB, gosto de criar um lar longe do meu. Sinto-me mais segura em casas alugadas e para mim são uma mais valia, poupo centenas de euros em restaurantes pois permite-me cozinhar (sou vegetariana). Tomo o pequeno almoço e janto em casa. Preparo sempre lanches para comer em andamento, assim não perco tempo e poupo bastante.


Qual é o teu tipo de viagem favorita? E como preferes viajar?

As minhas viagens preferidas são as rodeadas de natureza. Descobri com a morte do meu pai que o meu elemento eram as montanhas, que era onde me sentia “eu”.
Por isso comecei a viajar para destinos sobretudo de montanha, onde faço atividades como rapel, escalada, kayak em rápidos, trekkings, hikings etc.
Gosto também de visitar cidades, mas opto por fazê-lo quando viajo com a minha família. Prefiro deixar os momentos de introspecção para mim mesma.
Viajo por norma sempre de avião até ao destino, e chegando ao destino alugo carro, o que me dá a possibilidade de ir onde quero e quando quero, sem ter horários. Ajuda imenso, porque em destinos de montanha é fulcral acordar muito cedo, para que consigamos apreciar as melhores paisagens sem grandes grupos de pessoas.


Gostas de planear antes de viajar ou preferes ir ao sabor da corrente?

Planeio sempre com antecedência. Para mim é importantíssimo que o planeamento seja feito à priori, até porque é o planeamento que determina o número de dias que fico em cada local, no caso de ser por exemplo um multi-destino.
Começo por determinar os sítios que quero mesmo ver, e encaixá-los num mapa de excel, com divisão por dias. Assim tenho uma noção do tempo que vou necessitar em cada local, o que me permite optimizar o tempo e poupar dinheiro, para não ter surpresas desagradáveis.

Como mulher e viajante a solo, tens medo?

Tenho, claro que sim, estaria a mentir se dissesse que não. Mas não tenho medo em todos os locais. Na minha última viagem tive muito medo por exemplo. Estive em África do Sul e falavam-me de Joanesburgo como se fosse a pior favela do Brasil. Que havia raptos sem rasto, violações de mulheres no aeroporto, e assaltos à mão armada. Senti-me muito frágil quando cheguei ao aeroporto, mas reservei tudo de forma a que não tivesse que pedir ajuda a ninguém, e reduzisse ao máximo o contacto com pessoas que estariam no aeroporto.

Em destinos de montanha, tenho mais medo nas minhas aventuras, sobretudo em atividades que pressupõem alturas. Apesar de ser corajosa, as alturas são o meu ponto fraco, assim sendo preciso de ter tudo muito bem controlado. Faço sempre um triplo check ao equipamento, para me sentir mais calma e segura.



Já te sentiste em perigo em alguma das tuas viagens?


Sim, em Joanesburgo, um homem começou a seguir-me ao longe, mas consegui virar para dentro de uma zona do aeroporto restrita e despistá-lo.

Acreditas que existe diferença entre viajantes individuais entre mulher ou homem? É mais ou menos fácil? Mais ou menos perigoso?

Não tenho qualquer dúvida, mas não é algo que venha de mim, não sou eu que crio as diferenças, é o Mundo.
Nós somos mais susceptíveis, por exemplo a uma perseguição, tentativas de violação.
Eu tenho a mão pesada, como se costuma dizer, se tiver que pregar um pontapé ou murro, vou deixar estrago, no entanto não sei se alguma vez teria capacidade de reacção perante uma situação de perigo.
Eu viajo sempre com muito equipamento fotográfico e por isso fico com os olhos bem abertos. Tenho imensos truques de como arrumar a carteira, lado para onde coloco as fechos da mochila, usar capa da chuva em sítios com muita gente…
Em relação à facilidade, acho que é igual, mas em relação ao perigo, é o que referi acima, nós mulheres somos mais susceptíveis porque somos vistas como o sexo fraco.

Porque começaste a viajar sozinha? O que te inspirou?

Comecei a viajar sozinha após a morte do meu pai, que se seguiu de um fim de uma relação que ainda hoje deixa marcas. Senti que precisava de encontrar o meu propósito, tirar os sonhos da gaveta e fazê-lo sem depender de alguém.

Tinha uma viagem marcada com o meu namorado, tudo pago e planeado. Por motivos que nem consigo justificar, a nossa relação terminou um mês antes de levantar voo.
Com o coração partido, precisava mesmo de sair deste ambiente. Foi um super teste a mim mesma, reaprender a estar comigo, a apreciar o silêncio. Foi uma viagem super complicada, chorei todos os dias, sobretudo nos últimos três, em que não podia sair de casa porque apanhei uma tempestade gigantesca.
Passava os dias a comer, a ver filmes para chorar e a sentir pena de mim mesma, pois era tudo muito recente e eu na altura queria muito reatar aquela relação.
Na minha última viagem a solo, reencontrei-me e realizei um sonho que tinha prometido ao meu pai, ir a África, país onde ele nasceu e fazer um safari.
Tornei a ter autonomia, e vontade de explorar sem querer ter constantemente aquela pessoa ao meu lado, que agora não passa de um capítulo na minha vida.


Como escolhes o teu próximo destino?


Eu tenho uma lista infindável de locais a que gostava de ir. Tenho alguns que sei que não passam de sonhos, pois o investimento é brutal, mas queria mesmo muito ir à Islândia no próximo ano. Escalar um glaciar, fazer kayak no meio daquela imensidão. Espero ansiosamente para ver o que a vida nos reserva em relação a trabalho e a toda esta situação do Covid-19.

Qual foi a tua melhor viagem, porquê?

A viagem que me marcou mais foi a África do Sul, sem dúvida. Eu fiz de tudo, eu fui ao Kruger Park, andei de balão sobre a África subsariana, passeei nas montanhas, vi as paisagens mais bonitas de tirar o fôlego, visitei comunidades locais, conheci projectos comunitários que mudam vidas. Tive o privilégio de visitar uma creche, conhecer, brincar e entregar brinquedos a crianças carenciadas. 

Qual foi a tua pior viagem, porquê?

A solo talvez tenha sido a Eslovénia, não pelo destino, porque eu amei a Eslovénia, mas pela situação toda em si. Estava um caco a nível emocional, foi uma época muito difícil para mim. Tinha ataques de pânico, que já não vivia desde a morte do meu pai, sentia-me a pessoa mais incompreendida do mundo. Sentia verdadeiramente que ninguém se importava com o vazio que eu sentia e por isso não consegui aproveitar a viagem a 100%. Passava os dias com a esperança que ele aparecesse lá e que dissesse que estava tudo bem. Agora penso que ainda bem que assim não foi, porque estou muito mais feliz agora.

Qual a tua melhor história, um momento ou alguém que te tivesse marcado durante uma viagem?

Visitar a ONG Hlokomela, em África do Sul, conhecer aquelas pessoas, fez-me sentir pequenina.
Senti que não dou o devido valor à sorte que tenho em ter uma casa, uma família independentemente de todos os seus defeitos, de ter saúde.
Aquelas pessoas não têm nada e são tão felizes, é algo que me marca muito. Na Hlokomela conheci diversos locais que o projecto abrange. Mas o que me marcou mesmo muito, e que me deixou a chorar compulsivamente horas após sair de lá, foi a creche… bebés sentados no chão com uma manta com dois ou três brinquedos para quinze pequeninos.
Aquela creche é para filhos de trabalhadores das zonas agrícolas de Hoedspruit, são pessoas realmente carenciadas.
Há bebés que passam dias com fraldas sujas, porque é a única que têm.
Foi algo que mexeu muito comigo emocionalmente, porque eu sou uma chorona e tenho uma ligação muito grande ao público infantil (devido à minha área de licenciatura).

Quando lá cheguei as crianças mais velhas saltaram-me para o colo e por muito que tenham ficado entusiasmadas com os sacos de brinquedos novos que levei, eles só queriam mexer-me no cabelo e abraçar-me. Eu tenho um cabelo liso muito muito comprido, e eles não estão habituados a ver este género de cabelo. Tiraram-me também a go pro do pescoço e andaram a filmar e a tirar fotografias uns aos outros. Foi intenso.
Tocou-me profundamente a simplicidade e o amor nos olhos daquelas crianças.Senti que lhes devia algo, que depois de ver aquilo que tinha a missão de os ajudar. Desde que cheguei a Portugal que tenho ajudado a divulgar ações de solidariedade para ajudar a levar comida a famílias, que devido à pandemia, ficam dias seguidos com um pão para dividir por 10 pessoas.


Viajar mudou a tua vida ou mudou-te como pessoa?
Não tenho qualquer dúvida que sim. Tornou-me mais resiliente, mais focada, mais forte e ainda mais empática, com vontade de mudar o mundo e restabelecer a justiça a quem não tem voz.

Tens algumas dicas que possas partilhar com outros viajantes?

Não deixem que o medo vos impeça de concretizar os vossos sonhos. Façam uma lista daquilo que adoravam concretizar, um género de uma bucket list, comecem por baixo, comecem por realizar pequeninos desejos e sonhos localmente e vão aumentando progressivamente.
Quando derem por vocês estão do outro lado do mundo a mudar vidas, e sobretudo, a mudar a vossa.

Algum conselho para outras mulheres que queiram viajar?

São mais fortes do que julgam, e por isso toca a tirar o rabiosque do sofá e venham conhecer o mundo lá fora. O mundo tem espaço para todas e existe uma comunidade imensa de mulheres a viajar sozinha pelo mundo, procurem por isso grupos, chats de partilhas para aumentar a vossa confiança. Leiam muitos blogs com experiências várias, contactem por email com essas mesmas pessoas, eu pessoalmente estou disponível para falar com quem precisar 😊
Marquem férias de curta direção fora da vossa cidade, no país, depois noutro país e é uma questão de tempo até se juntarem a esta comunidade que muda as nossas vidas, dá-nos poder e conhecimento.

Como viajante a solo e mulher, o meu objetivo é inspirar outras mulheres e demonstrar o nosso poder pelo mundo. Partilhar experiências e aventuras.
Espero que tenham gostado da primeira entrevista do projecto, mulheres pelo mundo!
Um muito obrigada à Marta por partilhar com todos nós a sua vida 🙂
E tu? tens histórias por contar?
Envia email para:
collabs@flywithjesse.com




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